sábado, setembro 24, 2016

Califórnia (Marina Person, 2015)


Em meio ao sucesso da série oitentista Stranger Things (Netflix, 2016), cujos dois primeiros capítulos eu acabei assistindo por insistência do meu filho, uma pérola do nosso cinema que não recebeu um milésimo da atenção destinada ao produto americano estreou em surdina no Canal Brasil: o primeiro longa metragem ficcional de Marina Person, Califórnia (2015) – muito bem recebido nos festivais de que participou no ano passado.

Um belo rito de passagem, provavelmente influenciado por material autobiográfico da própria diretora, que viveu a puberdade nesse período e conseguiu recriar o contexto político-social-econômico e cultural da ocasião sem perder de vista as angústias e os dilemas da sua protagonista. Terminei a sessão certo de que terei de ouvir mais The Cure e Siouxie and The Banshees - essas duas bandas exigem uma dosagem equilibrada entre sensibilidade e sombriedade.  A música desempenha um papel importante na produção e Marina faz uso certeiro do material que tem em mãos. Ao contrário de um filme como Stranger Things, que bebe na fonte oitentista de forma saudosista e reverente, Califórnia parece ter saído de lá, "direto do túnel do tempo", sem o distanciamento temporal.

O filme carrega um pouco do DNA das comédias adolescentes de John Hughes, com uma atmosfera mais pesada que me trouxe à mente a melancolia mais árida do pós guerra de Os Incompreendidos (François Truffaut, 1959), fortalecida pela fantástica trilha sonora inglesa da época. Inclusive, conta com uma cena semelhante à da corrida de Jean-Pierre Léaud rumo à praia, motivada, contudo, pela mesma paixão que levou Woody Allen a percorrer as ruas de Nova York ao final de Manhattan (1979).

Eu vi Aquarius (2016), de Kleber Mendonça Filho, uns dias depois, mas Califórnia é que permanece crescendo na minha memória. Aquarius é um filme de evidente fluência narrativa, mas que perde o impacto com o passar do tempo. Sônia Braga está gigante, merecendo todas as láureas conquistadas por sua interpretação. Eu gostaria de ter carregado ele comigo por mais tempo.

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