sábado, janeiro 21, 2017

Tão Longe, Tão Perto (Wim Wenders, 1993)



Deixe-me explicar algumas coisas. Em primeiro lugar, o tempo é curto. Para uma doninha, o tempo é uma doninha. Para um herói, o tempo é heroico. Para a prostituta, o tempo é só mais um programa. Se você for amável, seu tempo será amável. Se você estiver com pressa, seu tempo vai voar. O tempo é um servo se você for o mestre dele. O tempo é um deus, se você for o cão dele. Somos criadores, vítimas e assassinos do tempo. O tempo é atemporal.
Emit Flesti (William Dafoe)


Faz muito tempo que eu vi Asas do Desejo (1987), do mesmo Wenders, que precede Tão Longe, Tão Perto. Se Asas do Desejo não tivesse sido tão bem acolhido pelo público e pela crítica essa “continuação” dificilmente teria acontecido. Eu vi Asas no início da minha cinefilia e me recordo do impacto que a fotografia de Henri Alekan me causou, com a opção de retratar o mundo dos anjos em preto e branco e o mundo dos humanos em cores. Nem foi tanto a languidez da narrativa/edição que me chamou a atenção, tampouco a história de redenção do anjo Damiel (Bruno Ganz), ambos só vieram a me causar impacto agora, assistindo Tão Longe, Tão Perto. Vou ter que voltar a Asas para comprovar a sua superioridade sobre Tão Longe, Tão Perto, que desconfio se encontre no roteiro, menos detetivesco, hollywoodiano talvez, mais abstrato, filosófico talvez. Confesso que meu maior entusiasmo repousa sobre as imagens de Berlim captadas pelo fotógrafo Jürgen Jürges, estupendas, especialmente as tomadas aéreas. Mesmo tendo visitado a cidade, essa perspectiva de contemplação pelas lentes “dos anjos” não é privilégio dos turistas, só o filme nos proporciona. É como se eu a tivesse visitado novamente, redescobrindo-a – num momento chave da sua trajetória, poucos anos após a queda do Muro de Berlim.

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